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Yogini por Amor + instrutora por dedicação + massoterapeuta por vocação + caminhando com samtosha e exercitando compaixão.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Vida de ashram

BUM BUM toca o sino as 4:30 da manhã e ouço alguém dizer OM NAMAH SHIVAYA.
Abro os olho e vejo que não sou a única a começar a se movimentar rapidamente na cama para se preparar.
-1 minuto para espreguiçar;
-1 minuto para juntar sua roupa, toalha e chegar ao banheiro;
-10 minutos para jala neti, para raspar lingua, tomar banho, escovar dentes, vestir-se, arrumar a cama, pegar o mat e sair em direção a sala.

Chegar à sala, procurar um lugar, estender o mat, enrolar-se no chale, movimentar a cabeça e sentir os barulhinhos do pescoço e o Swami diz OOOOMMMMM...

E, agora, posso respirar mais suavemente. Cheguei a tempo para relaxar.
Iniciamos o dia com um bhajan longo, que vai entrando devagar, acalmando todos os sentidos e fazendo surgir um calor enorme no peito.
Então, seguimos com os pranayamas por uma hora. Uma hora que, às vezes é maravilhosa, outras, é muito cansativa, alguns momentos voce acha que está experenciando um êxtase e quando percebe está mesmo é dormindo.
Depois de carregar-se com prana, meditação por mais uma hora. Dizem por aí que meditação é muito bom. Concordo, em termos.
Porque as vezes não tem nada de bom em ficar uma hora sentado, olhando para você mesmo sem ter para onde fugir. E é daí que começam a surgir todas as coisas feias e medonhas da sua personalidade. E sabe o que você faz? Se estivesse em casa, abria o olho e saia correndo, mas como o local exige respeito e muita, muita disciplina, então, você fica ali olhando para tudo o que vem surgindo entre um mantra e outro, pedindo para que os ponteiros do relógio corram mais rápido. Mas eles não correm.
E uma hora é uma eternidade. Todas aquelas as máscaras que costuma usar, vão ao chão. Todos os artifícios das suas relações interpessoais, da suas crenças vão se desmanchando. Bom? Ótimo! Mas não é sempre assim que você verá!
Terminada a sessão tortura de meditação o sol começa a brilhar, o mundo começa a despertar e então, lá vem a prática de Hatha Yoga.
Torce, puxa, faz força aqui, segura ali, inverte, reverte, transforma, desforma e relax... quando ouço relax aaahhhhh, êxtase!
E assim começa meu primeiro dia, dos 30, ao qual me propus a vivenciar o Yoga, um minuto de dor, um de prazer, um de bom, outro de ruim e enfim, depois de tres horas e meia de muita pratica, o tao esperado desjejum.
A fila de 100 pessoas dobra a esquina do refeitório. O estômago roncando alto, e ainda, tenho que exercitar a paciência. Não fosse isso, antes de comer, rezar. A mão desesperada vai pegar o pão e opa! OM Brahmam é o alimento, é o fogo, é o que te sustenta, Brahmam.....
A hora da refeição passa voando, bem diferente da hora da meditação, porque será?
Terminando de comer, momento de descanso.. Não! Momento Seva!
Um dia lave louça, no outro varra o chão, no outro, limpe banheiros, no outro, janelas, limpe o altar e assim dia-a-dia uma função.
O Swami sorridente de laranja aponta:"enquanto trabalha, utilize-se de mantra para não deixar sua mente vagar". Porque ele sorri tanto? Isso me irritava. Nada o incomodava? Acordar as 4 da matina todo dia, aguentar um bando de gente andando atrás dele o tempo todo nesta calma. Será que é porque, enquanto estamos aqui trabalhando ele dá um cochilo?
E os olhos daquele ser...um brilho imenso e tão, tão expressivos que dava até um certo incômodo ao bater os olhos de frente aos dele, parecia que um raio X passava por você e e ele sabia imediatamente tudo, tudinho, qualquer coisinha que passava na sua cabeca, que medo.
Então, para defender meus pensamentos privados do seu super-olhar , o jeito era seguir as instruções dele: mantra o tempo todo. Dai, comecei a reparar que minha cabeça andava em lugares nada politicamente corretos, éticos ou belos. Imagina se o Swami ouve isso? Meus pensamentos, vagavam entre eu, eu mesma e nada mais que eu.
E nesse monte de tralha egóica, tem a violência, muita violência que eu achava não cometer porque não comia carne. Quem dera fosse tão fácil assim, largue e a carne, os ovos, e pronto! Não precisa mais de esforço para ser uma yogi-pacifista. Droga de pensamento idiota! Droga de trabalho sem fim. Droga de retiro que me deixa enfurecida!Porcaria de lugar que nao da tempo nem de olhar no espelho! Se meu cabelo estava bom? Nao sei. Se havia uma couve colada no meu dente? Nao sei tambem. E reparei que ha uns dias nao sabia mais como era meu reflexo. A situacao das unhas, nem te falo. Hidratante, filtro solar, batom, os 345 tipos diferentes de creminhos para cada pedacinho do corpo, aaahhhh estao num mundo distante agora. O conforto da sua cama, com travesseiro fofinho, roupas lavadas na maquina, aaahhh que sonho...

Sem contar que aquilo e que era um big brother! A galera toda sendo eliminada dia-a-dia, e aqui nao posso nem citar os motivos que eles davam, ou os que contavam tentando se convencer de que nao era boa ideia ficar por la.

E o tempo vai passando e voce esta con-vivendo com pessoas. Pessoas e suas manias. Manias delas, porque e claro, voce nao tem nenhuma mania irritante, tudo em voce e absolutamente normal.
E conflitos. Num ashram? Sim! As pessoas brigam, se estressam, descabelam por muito pouco. Toda aquela cera passada na cara para dar um 'tapa' na aparencia vai desmanchando no calor da disciplina. Pelo menos foi assim que eu saquei as coisas rolando.
Todos os tipos de crises. Ate as improvaveis de namoricos as escondidas, com traicoes, com paranoias, ciumes, quebra-paus etc...Novela mexicana. Tudo em menos de um mes de convivencia! Da-lhe o lado negro da forca!!! Forca, Luke! "Muito a aprender voce ainda tem", diria mestre Yoda.
A dor do corpo, a dor da alma, a dor do ego que nao gostava de limpar banheiros
'Por favor, senhor Swami, gostaria de uma funcao mais nobre, porque arrumar o altar e muito mais legal', ou ' Como assim? Paguei para vir aqui estudar e estou cortando cenouras?'.
Porque e claro que quando chegamos, eramos todos Yogis do mais alto grau evolucionario espiritual com graducao e nivel 5 estrelas. Mas passando o tempo juntos, vivendo como uma familia, tudo vem a superficie e viva! Problemas a vista! Sem uma frase de efeito do mestre Yoda nao da para continuar, porque ele e muito bom "O medo é o caminho para o lado negro. O medo leva a raiva, a raiva leva ao ódio, o ódio leva ao sofrimento." Parece que esse cara andou lendo as Upanisads.

Houveram momentos em que ganhavamos um tempo para nos. Recebiamos a noticia felizes e quando achavamos que ia rolar um descansinho, era pedido para que todos fizessem mauna e usassem este tempo para estudar. Duas horas de descanso, estudando em silencio e no refeitorio para que os professores pudessem auxiliar nas duvidas. Nao e uma maravilha?
Ate agora, so contei uma pequena parte do que vivenciei, mas existem outras nuances disso tudo.
Por um lado, era uma disciplina rigida, duas trocas de roupas somente, uma corre-corre ladeira acima, ladeira abaixo,muito estudo, muita pratica, dores pelo corpo, muitas duvidas, e por ai afora.
Por outro era muito amor no coracao daqueles que estavam ali para ensinar, muito sorriso acolhedor, muita paciencia com o minimo problema que voce pudesse estar vivenciando, muita comida boa e desintoxicante, alguns quilos perdidos, algumas ideias jogadas no lixo e muita, muita verdade sobre voce sendo revelada.
Com o passar dos dias, notei que acordava antes do sino, meu tempo de banho, troca de roupa e chegada a sala de aula era o mesmo, mas a forma com que eu fazia tudo isso era outra. Nao contava o tempo. Nao olhava para o relogio. Tudo se encaminhava de forma mais suave, sem aquela urgencia que eu sentia nos primeiros dias para nao me atrasar. Eu simplesmente, ja havia me acostumado com aquelas pessoas que tossiam pela manha, as que reclamavam do banho frio  (posso dizer que levei muito tempo para me adaptar a isso tambem), a subida da ladeira, a meditacao penosa matinal, aos incomodos dos insetos.
No inicio da jornada, eu imaginava que podia ter feito algo melhor com minhas ferias, e sonhava com o que os outros estariam fazendo. Dai, percebi que nao havia mais vida la fora, a vida estava ocorrendo aqui, daquela maneira, do jetinho que estava e era suficiente, nem bom, nem ruim.
Nessas pequenas revelacoes, fui aceitando cada dificuldade com compaixao, cada licao com reverencia, cada dia com sua beleza, cada ser que ali estava com sua personalidade, cada meditacao com seu obstaculo, cada trabalho com dignidade e integridade, cada momento como uma declaracao de amor profundo e gratidao.
Dos ensinamentos colhidos deste encontro, trago comigo algo que jamais pode ser explicado. Sao com esses aprendizados que procuro dar passos seguros na minha caminhada. E e com o coracao transbordante de alegria que saudo aos meus mestres diariamente.
JAYA!

( nao reparem na falta de acentuacao, pois este texto comecou ser escrito no meu pc que pifou e terminei num mac que nao sei onde fica nada!)








sexta-feira, 24 de agosto de 2012

milagres e coisas impossíveis

Ano passado fui pega de surpresa por um problema que arriscava minha vida e fui salva por um médico que adoro.  Posso dizer que o considero um grande amigo, porque nossa relação foi a mais íntima que conheço, digamos, ele me conhece por dentro. Piadas a parte, após o pequeno incidente, ele ficou bastante impressionado com a minha rápida recuperação e quis saber o que fazia, pois quando ele passava para a visita, lá estava eu sentada (o que não era comum) fazendo pranayama. Dessa nossa vivencia, e após, nasceu a amizade.
Ele se interessou por Yoga e eu por sua relação com Deus, afinal, como alguém que abre corpos, tira, põe, vira do avesso se relaciona com a espiritualidade.
Ele se define como um cientista, diz que a única coisa que sabe é que pode fazer algo, as vezes impossivel ,com o conhecimento que tem e, sendo que, nem sempre dá certo. Que não acredita em nada que não pode ver, ou tocar, ou explicar. Que não tem fé em nada, que para ele a vida é uma mecanica simples, peças funcionam, outras quebram e algumas se consertam.
Eu o achei muito confiante, e muito crente em suas idéias, mas para mim, afinal, quem acredita em si mesmo, tem fé em algo. Mostrei a ele meu ponto de vista e expliquei que o achava um homem de fé.
Ele crê na ciência. E a ciência será que não é um ato divino?
Eu também sou fã, mas muito curiosa e deixo espaço para aquilo que não se pode ver.
Acho que somos um milagre! E os milagres estão acontecendo sempre, alguns vem pelas mãos hábeis de médicos como meu querido Dr Gil. Um homem que ama vinhos e seu trabalho. Que se mostra muito curioso em entender o que é Yoga.
Disse a ele que o ensinaria o que sei e que podíamos começar com um exercício simples: "acreditar em 6 coisas impossíveis antes do café da manhã", frase do filme Alice no país das maravilhas, que eu adoraria saber até onde ia a criatividade dele.
E, travamos assim um pacto. Faríamos a nossa lista de possibilidades (aparentemente) impossíveis que queremos acreditar.
Eu quero acreditar, por exemplo, que possa existir no mundo alguém capaz de fazer uma tecnologia melhor do que a usada hoje nos consultórios dentários, e tenho certeza que muitos de voces concordam comigo.
Abro os meus olhos e sim, acredito que o dia será o melhor possível, e se ele não sair do jeito que planejei é porque ele está sendo melhor ainda.
Resgato bichinhos na rua, porque acredito que, um dia, nenhum ser vai passar por qualquer tipo de privação.
Reciclo meu lixo, raciono água, acho que carro só deveria ser usada para viagens e passeio, jamais para trabalhar, porque acho que um dia será possível viver na Terra sem causarmos tanta destruição.
Ele acredita que haverá uma cura para câncer. Que o sistema de saúde poderia ser acessível  e melhor para todos. Que a cada ano, haverá mais maquinas e equipamentos para detectar as doenças precocemente.
Eu, acredito que podemos fazer um esforço juntos para mudar nossa condição pessoal, social, política, economica, global. Ele, que surgirá novos pensadores, novos cientistas, uma nova geração política que mudará tudo. Eu, que se todos se iluminassem seria divino....
E assim, fizemos nossa brincadeira. Até o momento em que juntos, notamos, que nossos sonhos não eram assim, tão distantes da realidade. Que se, antes de nós, outros não tivessem feito suas listas, o que seria hoje?
E se nós não fizermos as nossas e seguirmos com fé, para que serve tudo?
E, sim, um dia não precisaremos de lista....
E nós chegamos ao ponto em que a brincadeira já não fazia sentido porque estavámos lá, silenciosos, vendo o milagre de dois mundos que pareciam tão separados, unificados..a ciência e o místico...os nossos olhos se cruzaram, e ele sabia que sem o coração bondoso com a intenção de livrar qualquer ser do seu sofrimento, sua função não tinha valor..e isso não era dado por nada que ele conhecesse ou explicasse..e eu sabia que sem toda a tecnologia e conhecimento, não estaria ali conversando... e que existia algo que nos unia além de qualquer palavra...e lágrimas brotaram dos nossos olhos em agradecimento...
Nossas mãos se uniram e nos saudamos.
E enquanto escrevia este texto ele ligou para marcarmos nossa próxima aula...
Namaste Dr Gil!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A grande mentira

Sempre chega aquele momento em sala de aula em que nós, professores, devemos tocar em assuntos mais profundos da prática. Já repetimos e insistimos que os valores aprendidos devem ser exercitados e como todo professor sabe, a repetição é uma ótima forma de fixar o ensino. Pela milionésima vez, estava explicando o maha vrata ("grande voto" yamas de Patañjali) e ao terminar, perguntei, "Está claro? Fácil, não?" e ouvi um sonoro não!
Não?! Porque não?!
E com alguns anos de sala de aula voce se acostuma a ouvir todos os tipos de argumentos: 'A sociedade não é assim, o mundo não permite, já sou estranho, imagine se resolvo viver desse jeito, meu marido bla, minha familia blabla, no meu trabalho blablabla e blablabla...'
Esses são exemplos das maiores mentiras que contamos.
Sinto muito, mas preciso dizer a verdade. É bem mais fácil não sair do seu estado conformista para arregaçar as mangas e tentar fazer diferente.E mais fácil também é procurar culpados para as situações da vida, sendo que assim, voce não fará nenhum esforço para enxergar a si mesmo e ver suas falhas e falta de honradez.
Eu, sinceramente, não aprecio os caminhos fáceis, da falta de reflexão e observação profunda da vida.
A capacidade de pensar foi dada a todos, só que aqui é exigido reflexão correta e pensar bem, muito bem.
Será que estamos mesmo lutando contra a correnteza quando achamos que é possível viver a vida de forma mais integra? Faça sua reflexão.


                                                                 ((((((((((RESPIRE)))))))))))))))


Eu vejo pessoas que lutam desesperadamente para encontrar as respostas certas para a vida, porque não estão felizes com o trabalho, com a familia, com nada. Porque será?

                                                                
                                                               ((((((((((((((((REFLITA)))))))))))))))))


Já pensou o quanto é dificil manter uma mentira? Mesmo que ela seja bobinha? Como a seu organismo responde com aceleração cardíaca, pupilas dilatadas, transpiração, garganta seca? Isso é o oposto da harmonia natural. A não ser que voce seja um ótimo mentiroso, com certeza vai vivenciar isso.
Então me responda, mentir é natural? Pode ser socialmente aceito, mas não-natural. E por ser aceito é justificável? Quanto de verdade há na sua vida?



                                                                  ((((((((((((((RESPIRE))))))))))))))))


A vida só tem cor se tem coração. Na medicina tradicional chinesa, o coração é a morada do Shen, de onde emana toda a energia luminosa da vida, a alma.
No Yoga, o chackra do coração é responsável pela compaixão, amor, e pela divisão o Eu do não-eu.
Vejo muita gente vivendo o não-eu por falta de coragem (e como voce deve saber coração e coragem são similares).

                                                            
                                                              (((((((((((((((REFLITA)))))))))))))))


São muitos os aspectos a serem pensados, escolhi falar da verdade (satya) porque é o mais comentado e acho que se voce inicia por ele consegue fazer uma ótima análise de como anda vivendo. Faça um balanço com muita honestidade e veja se voce não precisa adicionar um pouco de contentamento, de disciplina, de auto-estudo, desapego, deixar de lado a ganância para se viver melhor. O que nós queremos de verdade?


                                                              ((((((((((((ANALISE))))))))))))))





Vi essa tirinha que combina muito com esse pensamento no facebook.
Pense, mas use sua capacidade para pensar bem!

em profundo Amor, _/|\_




domingo, 1 de abril de 2012

a adoravel hospede

Estes dias recebi uma visita inesperada do destino que fez chegar ate a minha casa, Nina,uma gatinha de pelos longos que veio passar uma temporada comigo, por motivos bastante complexos que sua dona esta passando.
Ela chegou assim  de um jetinho bem assustado e ficou escondida embaixo da pia da cozinha. Eu achando que era medo, mas na verdade era um senso de 'nao incomodar' que eu descobriria mais tarde. Esse sentido anda em falta na maioria das pessoas que esbravejam pelos seus direitos pelo mundo, abrindo a boca para falar o que pensam sem saber se os outros estao a fim de ouvir. Tem gente que toma uma espaco imenso quando chega e nao pelo lado positivo, se e que voces me entendem. Vi naquela gatinha qualidades tao em falta hoje em dia na nossa raca humana. Ela nao se deixou levar pela seducao do cat nip, nem pela racao mais saborosa que eu ofereci e se manteve na sua dignidade escondida no mesmo cantinho por um dia todo. Nao se dobrava facil. Nao seria um saborzinho novo ou um prazer delicioso de rolar sob a graminha que a tiraria de la. Ela dormiu, acordou e permaneceu imovel sem querer se aproximar, sem querer conhecer o mundo novo que ela poderia explorar. Ela deu o tempo a si mesma necessaria para assimilar a mudanca. Ela jejuou, ela se absteve do movimento,ela e uma catyogi..Os cheiros eram novos,a casa, a tia estranha, sao muitas mudancas, entao silencio e quietude era o remedio. Nina me ensinou. Ela me mostrou tambem como a confianca se conquista aos poucos, sem muito alarde, sem muitas frescuras. Ela decidiu que me acordaria bem cedo todos os dias para que tomassemos nosso cafe da manha. Juntas. Sim, ela me esperava para a refeicao. Com a maior elegancia. Sempre que terminava seu desjejum, vinha me pedir um pouco de carinho, tocando gentilmente a minha perna com sua patinha e se deixava esfregar com os pes. Nina virou minha amiga de verdade. Ela e muito delicada e gentil. Me mostrou que podemos nos esconder quando nao gostamos de uma situacao. Ela me mostrou 'vire as costas, saia andando e deite em um lugar tranquilo, so com voce mesma, nao ha nada melhor. Apesar do barulho do aspirador, sempre ha um espaco de silencio'. Ela me tocava com carinho, com amorosidade, ela esteve ao meu lado nos dias de trabalho, nos momentos de contas a pagar e sempre que eu comecava a sair do eixo ela miava.
Ela aprendeu a abrir as portas e enquanto eu tomava banho, deitava no tapete a me esperar. Fidelidade. Paciencia. Nina nao entrava em meu quarto. Respeito. Ela foi umas das hospedes mais proximas de um ditado que se ouve muito na India e que so agora consigo perceber. O hospede e Deus. Isso serve para nos lembrar como devemos tratar aqueles que chegam a nossa casa. Eu acho que a tratei bem...mas acho que ela me tratou melhor ainda...Isso sim e um sabio..passa e so deixa o melhor de si...deixo para voce aqui, budinha peluda meu sincero namah!!!!

domingo, 11 de março de 2012

declaração de imposto de renda

Sr Leão,
Declaro que no ano de 2011 eu vivi intensamente, gastei muito dos meus créditos e multipliquei meus patrimônios . Acumulei muitos amigos, muitas risadas, algumas lágrimas, subtrai muitas culpas e me libertei de vários apegos. As minhas doações contam? Doei meu tempo para muitos, doei meu colo, meu ombro e nisso acumulei mais ainda, muito em carinho, amizades e conhecimento. Acho que vou dançar, mas vamos lá. Recebi uma notavel herança e sei que por conta disso terei que pagar um imposto lascado,da minha mãe veio a honestidade e lealdade.Recebi dela tambem, a capacidade de se doar sem medir esforços e do meu pai um contentamento sem explicação, em qualquer situação. A mania de fazer piadas, por acaso, veio dele. E por isso e muito mais tenho uma gratidão imensa pelos meus pais. Acumulo uma admiração profunda pelas minhas irmãs que são uma fortaleza. Declaro que sou beneficiaria de um  amor sem fim e amo demais. Amo amigos, animais, livros, objetos. Declaro que acumulei umas rugas e uns quilos a mais, que tenho agora algumas cicatrizes e marcas. Isso deve contar como bens recebidos pela existencia divina? Preciso tambem me declarar isenta de culpa por erros cometidos e palavras ásperas que eu tenha dito? Devo declarar que sou feliz? Devo dizer quantas palavras de incentivo e de apoio eu ouvi ou disse? Devo declarar que sou isenta de preconceitos? Devo declarar que ganhei na loteria quando me apaixonei?
Declaro que sou residente da Terra e este deve ser um patrimônio incalculavel,não? Que desfruto da agua salgada do mar, do sol, das aguas geladas dos rios, das delicias da natureza, do carinho peludo dos meus felinos. Declaro que sou responsavel por toda minha familia que é a raça humana e todos os seres vivos. Sou responsavel e dependente deles, isso me isenta de impostos?
No ano passado e nos anteriores acumulei mais do que jamais imaginaria receber em uma existência inteira, doações que vieram atraves de mãos caridosas, palavras de gentileza, atos de bondade, amizades preciosas, irmandade verdadeira e respeito. Declaro que vivenciei muitas coisas belas e outras terriveis que me somaram mais ainda. Por isso sou mesmo muito rica, Sr Leão, uma bilionária porque o que recebi de bençãos não tenho nem o que dizer.
Sendo assim, pode levar tudo que tenho de material como pagamento dos impostos, porque toda a riqueza que recebi jamais me será tirada.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

a doce ilusao

Sofremos por nossa propria ignorancia, por nao sabermos quem somos, por nao tomarmos posse das nossas vidas e percebermos que estamos fazendo escolhas a cada instante. Sofremos porque gostamos de nos fazer de vitimas de um destino que nos mesmos criamos. Somos encantados por uma imaginacao infantil de que a vida nos deve algo. Somos sofredores de uma causa irreal,sendo que no fundo a dor vem de nao assumirmos a responsabilidade de nos tornar quem realmente somos. Queremos resposta pronta, sendo que a minha resposta vem das cicatrizes e tropecos da minha existencia, da minha moral,como e quando optei por uma direcao e a sua vem das suas escolhas, nao existe 'A resposta', existe tao somente a conclusao madura tirada da sua sabedoria. Procure mestres, procure em livros, busque onde quer que seja e continue olhando para fora. Matamos Deus e julgamos o proximo. Amamos o poder e entregamos o nosso poder e pensamento a qualquer besteira do momento. Deixamos a mente voar livre de uma imaginacao a outra sem dar a ela direcao, levados pelo espirito de rebanho. Torna-te quem tu es, assim dizia Nietzsche, e descubra a liberdade. Acorde para a realidade que voce chora por uma dor pequena, a dor verdadeira e a de ofertar gratuitamente sua liberdade a qualquer um que te ofereca uma suposta felicidade. Que possamos todos sermos plenos. Que possamos sair das dependencias das nossas ilusoes. HariH Om!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Estruturas Karmicas e relações curativas

Quando o assunto é Karma, todos pensam que estão hoje sendo influenciados por algo que fez numa vida passada. Karma é uma ação que tem consequencias benéficas ou danosas de acordo com a raiz da ação. Uma atitude que tenha um resultado negativo pode ter sido iniciado com uma intenção benéfica. Um resultado benéfico pode ter sido iniciado com a intenção negativa. A reação pode ser imediata ou pode ser muito demorada.
Nossas ações são automáticas pela falta de consciência do agente e é alimentada pela influencia do objeto para onde se destina a ação.Então somos responsáveis pelas nossas ações e as ações que geramos nos outros, um retroalimentando o outro. Nós estamos constantemente gerando Karmas, mas se em uma relação, um dos envolvidos conseguir perceber este mecanismo, há possibilidade de cessar a 'alimentação' do processo.
Um grande exemplo do Karma atual é o celular, objeto que hoje todos temos, usamos e não nos era necessário e talvez ainda não seja, mas hoje se tornou parte de nós. Alguns alunos entram na sala de aula com o telefone ligado e não conseguem perceber que eles não precisam ser achados em qualquer momento. Qualquer ação gera Karma. Preciso citar aqui, pois este texto vem como um alerta, a ação negativa de alguns professores, ditos espirituais.
Estive a uns meses observando a atitude de um certo professor que adora criar uma legião de seguidores. Seus 'alunos' sentem-se importantes por estar perto desta pessoa, poder ouvir os sábios conselhos que ele lhes dá e criam a falsa sensação de estarem 'evoluindo' para algum lugar. E o professor se alimenta da estima que lhe é dada, assim os 'alunos' são necessários para o desenvolvimento Karmico do professor e vice -versa.
São cegos, sendo guiados por cegos, e aqui a cegueira é da visão estreita, da falta de luz de conhecimento, do breu da ignorância. Falo isso, porque na escola nós temos grupos de cegos as sextas-feiras e eles saem organizadamente  um sustentando o outro, descendo lances de escada, amparando o colega na deficiência sem dar a ilusão de ser as pernas ou muleta alheia, por isso as vezes discordo deste ditado popular, porque um cego sendo guiado por outro tem mais chances de chegar a algum lugar do que um professor que não nota os laços de dependência e as estruturas Karmicas que está inserido.
Os valores que este professor passa são reais, mas da boca para fora , é a espiritualidade vendida em fórmulas mágicas, uma gota de meditação, um livro que se lê, uma historia de um sábio e pronto!. Os alunos precisam do professor e de alguém que lhes diga o que fazer porque não podem, ou não conseguem ser responsáveis por suas próprias decisões e pelo seu próprio caminho. São tão absolutamente infantis que não percebem em que maionese estão viajando. A situação é tão patética, se não fosse ainda mais triste, que quem não faz parte do grupinho, adoraria fazer, e além disso, inveja a amizade de alguns poucos selecionados amigos do 'amado professor'. Isso vai gerando uma bola de neve sem fim. Os alunos sustentam a baixa estima do professor dando-lhe a sensação de poder, e ele por sua vez, oferece somente o que é agradável aos ouvidos dos seus pupilos. Existe até uma aura de amor fraternal que envolve o ambiente.
A relação professor-aluno não é jamais algo que possa sustentar as ilusões de ambos. As vezes, voce na posição de professor vivencia o oposto de ser adorado porque não fala o que os outros esperam ouvir, não acaricia o ego dos alunos, pelo contrário faz questão de mostrar o automatismo mecânico que os coloca em apuros. O professor tem como obrigação tornar claro que voce (assim como ele) é presa constante de suas ações repetitivas e estamos todos juntos. Conheço uma professora de Yoga fumante que pede aos que sabem do seu vício, para que finjam que esta ação é natural. Ser 'cutucada' quanto a inconsistência de seu discurso de boa saude é muito agressivo, segundo ela, fere os princípios da não violência, ou seja, para ela parar de fumar é um ato de violência. Não contente, ainda  me disse que fala aos alunos 'faça o que eu falo, não o que eu faço'. Veja como podemos usar o que aprendemos na 'teoria do Yoga'  como ferramentas para alimentar mais nossos condicionamentos. Quais são os valores passados em sua aula?
O que nos resta? Se voce julga que este discurso é pessimista, ele não é. Pois conheço pessoas que seguem o que falam. Levam uma vida verdadeira e que merecem o título de professor. Outros que ralam de verdade atras de merecerem o titulo que já tem, mas sabe que que ele é algo muito além do papel timbrado e assinado.
Nos resta tomar as rédeas de nossas ações e sair deste torpor, dessa imbecilidade que nos aprisiona.
 Tome consciência das relações que voce mantém e cesse a 'alimentação negativa' percebendo quais atitudes suas produzem dano. Olhe na sua direção, não para os outros. Não tente mudar as pessoas, pois é preciso respeitar o processo individual de cada ser e tente não 'prender os outros num ambiente estreito' como se não fosse possível para ele sair de tal situação.
 Gandhi dizia 'seja o exemplo do que voce quer ver no mundo'. Mas faça por voce e para voce.Voce deseja ser um exemplo para provar a voce mesmo que é possível ter uma vida alinhada com o Dharma. As relações curativas são as que não tem espaço para a inverdade e não alimenta a ilusão dos outros. Cuidado com a deliciosa sensação de poder quando colocado frente a uma turma. Voce esta a serviço do Yoga e isso é bem distante de estar a serviço do seu ego.
E que todos os seres em todos os lugares sejam felizes...

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

As várias faces da Devi- o autossacrificio

Ainda na onda do exercício das virtudes universais, decidi trazer ao conhecimento de alguns, que talvez nunca tenham ouvido falar, a imagem e história de uma das deusas mais impressionantes do universo hinduista. Como o assunto em pauta ultimamente nas nossas aulas tem sido dharma, a disciplina e autotranscendencia, ninguem melhor que CHINNAMASTA para nos dar o verdadeiro significado do autossacrificio que fazemos no Yoga.
CHINNAMASTA  significa aquela que é decapitada, pois ela aparece em pé, segurando a própria cabeça cortada em sua mão esquerda, na outra mão, uma espada e um jato de sangue jorrando em tres direções diferentes. Há ao seu lado dois devotos que bebem do sangue que sai do lado direito e esquerdo e o central jorra diretamente na boca de sua cabeça cortada. Bonito,não? Nem sempre é visto assim, principalmente sem compreender o significado disto.
Porque ela está decapitada? A deusa, Mãe do Universo, cometeu o autossacrificio em favor da fome de seus discipulos, ou seja, arrancou sua cabeça para alimentar os devotos famintos. Ofereceu a si mesma para beneficiar os outros. Agora, porque o jato médio corre para sua própria boca? Na verdade, Chinnamasta não se matou como nos podemos conceber o suicidio, ela mostra que o autossacrificio não nega a vida e sim intensifica. Ela é alimentada pelo fluxo de energia psicoespiritual que sobe ao longo do canal sutil sushmna, conhecida como  energia Kundalini. Esse simbolismo é o que buscamos na pratica de Hatha Yoga, movimentar esta energia para que sejamos alimentados e revitalizados em cada celula e possamos transcender o corpo e transmuta-lo num veículo do divino.
Usar nossas mais diversas potencialidades para contribuirmos com a harmonia do Universo. Perceba que mesmo sem a cabeça, ela mantem-se de pé, mostrando a nós a sua infinita vitalidade e energia sem fim que podemos adquirir 'imitando' o seu ato de autossacrificio e assim acessando a energia do proprio Ser.
Há outra imagens de Chinnamasta onde ela aparece sobre um casal copulando, sendo o homem KAMADEVA (deus do amor e da paixão) e a mulher RATI (deusa do prazer). Esta imagem pode ter varias interpretações. Pode mostrar a natureza da impermanencia das coisas existentes, pode ainda, para os adeptos de Yoga e Tantra, significar o autossacrificio que transcende a sexualidade e o prazer, e mais um terceiro fator, que se deve a fato de sua cabeça cortada nos mostrar a transcendencia do ego e a identificação com o corpo físico.
So explicando melhor o segundo item, não há aqui nenhuma ideia do autossacrificio simbolizar celibato ou repressão e sim,  a utilização da energia sexual para aumentar a vitalidade do corpo.
Sem sombra de duvidas, a imagem de Chinnamasta e seus simbolos é um grande indicador de nossa natureza Ilimitada e capacidade de doação. Somos o sacrificio (praticante), o sacrificador (sabedoria) e o sacrificado(ego). E é aqui, neste exato instante que voce pode optar ser o puja (oferenda) divino.
Seguimos no exercicio de servir, amar e compartilhar...em amor, _/\_

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

o dharma e o sapato vermelho

Assunto que dá o que falar e refletir, é compras e o exercício do dharma. Eu, como consumista compulsiva assumida e nada orgulhosa da declaração, tive meu momento 'reflexões num shopping center' ao conversar com um vendedor de uma loja de sapatos em promoção (para quem quer um modelinho novo, a santa lolla esta com 50% off). Bom, continuando na linha de pensamento, o adorável vendedor me diz:
 "Não é lindoo este sapato? Couro por esse preço"....
E na minha cabeça a palavra se repetia como mantra: "couro, cooouro".......
"Bom?", eu disse, "não é assim tão bom"...
 Ele já imaginado perder a venda, diz: -"mas um sapato com essa qualidade voce não encontra por esse preço.." meus olhos desceram para meus pés e ele continuou:
-A parte interna é de couro suíno, mais macio, viu que conforto?
Sim, eu vi. Estava pisando nas nuvens...opa, nas nuvens não!!! Na pele de alguém!!!
Chega, já é demais -pensei- não basta a vaca, agora o porco também? Conforto meu, morte do outro.
Se voce não é do tipo que acha que os animais merecem alguma dignidade, pare por aqui.
Entramos num terreno dificil, tipo guerra do petróleo, onde uns defendem muito, outros mais ou menos e outros não querem nem saber.
Disse que não levaria o sapato,obrigada. Ele perguntou: 'não gostou?"
Outra duvida do dharma falar ou não a verdade?
Aqui vão as opções da máxima verdade ate a mentira branca (aquela que não fere ninguém):
-Gostei, mas é couro, sou vegetariana, e voce entende que___________
-Gostei, vou dar mais uma voltinha e penso se vou querer.....
- Não é bem o que eu queria, então, sinto muito..
- Não, não gostei!
Dentre todas, a resposta escolhida do dia foi, a primeira..Eis, que ele era esperto e retruca:
-Mas voce não acha legal que tudo do animal é usado? A carne,o couro, os ossos,etc...
Pronto, surgiu o momento reflexões da compra consciente.
-Eu acho, ja que ele foi abatido,assassinado, triturado, teve uma vida terrível, que sim, muito bom que tudo seja aproveitado para nosso prazer...
E agora? Então, se concordo, devo ou não levar o sapato?
Adorei minha conversa com o garoto, pois ele não tinha só interesse em vender algo, tinha vontade de conhecer a minha linha de pensamento, ou que filosofia estava por trás disso. Sentou-se ao meu lado, apoiou o cotovelo na perna e esperou: e ai? Muito papo depois, ambos estavamos rindo dos nosso ideiais.
Declaro que sou contra a violencia, mas me assusto com a quantidade de coisa que consumo que ferem esta regra tão nobre. Nas minhas buscas por uma vida menos violenta descobri que até minha pasta de dente estava condenada. A busca por uma perfeição deste nível é impossível. Reflita sobre as suas ações e veja quantas atitudes podem provocar dor e sofrimento as variadas espécies. Podemos, analisar nossos atos e minimizar a "meleca" que anda rolando por ai, mas dai a achar que vamos mesmo mudar todo o mundo, ai,ai,ai....Vai rolar muita frustração se voce sonha com isso.
Só peço que possamos sempre dirigir nossas forças e habilidades para o bem de todos os seres.
Se bateu a curiosidade, aqui vai um link, para que voce saiba sobre alguns produtos que usam partes de animais na sua composição e que voce nem sonha:
http://super.abril.com.br/blogs/planeta/9-produtos-que-contem-ingredientes-animais-em-sua-formula-e-voce-nem-sabia/
Ah, e sobre o sapato, decidi não levar. Tenho gatos, que vivem de ração que é composto de animais. Muitas gente ja come tudo que se move, então alguns, talvez, devam se abster para gerar equilibrio. Será? Fica a reflexão.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

o dharma e eu

Para iniciar este texto preciso mencionar um video que circula no you tube, chamado 'como crianças reagem ao prato cheio/vazio'. Vendo este vídeo, é possível, imediatamente, reconhecer o significado profundo do que é dharma. O que eu faço quando vejo que tenho um sanduiche e meu coleguinha ao lado não tem? O natural, dividi-lo, as vezes de forma desproporcional, não importa. A felicidade não é felicidade se não for compartilhada. 
Escrevo este texto como resposta a pergunta de uma aluna querida: "o que realmente é dharma?". 
Tema dificil, amiga, porque hoje em dia falar de virtudes, ou ser virtuoso não é lá uma coisa tão na moda, e isso acontece porque nós fomos perdendo de vista tudo aquilo que realmente importa, a relação com nós mesmos, a relação com os outros, a natureza, com a espiritualidade, etc...Fomos nos fechando de forma a parecer que estamos sós, isolados e perdidos. Mas sempre há tempo para correr atras e lembrar de quem somos. 
Respondo, trazendo aqui a tradução da palavra retirada da enciclopédia de Yoga da pensamento de Georg Feuerstein, atendo-se ao principal significado dentro do Yoga e do Hinduísmo: 
Dharma. (do radical dhri, 'segurar' ou 'reter')- No campo ético, dharma significa "retidão" ou "virtude", ou seja, a ordem moral, em oposição ao adharma. No Hinduísmo, a moralidade é o próprio fundamento do mundo.

Dharma é, então, aquilo que dá ordem e harmonia a tudo.Aquilo que sustenta o mundo. Todos ja devem ter ouvido falar do dharma da forma mais popular, "não faça aos outros aquilo que não gostaria que fosse feito a voce"? Então, é isso! 
Ensinamos e fomos ensinados desde cedo a perceber que nossas ações tem consequências. Lembro- me de um livro que dizia que as mais valiosas lições da vida foram aprendidas no jardim de infância. Concordei com muitas coisas. Exemplo, se voce usa um brinquedo, tome cuidado para não estragar, divida com os colegas e depois deve guardá-lo de volta. Regra simples, não é? Mas olha o que estamos fazendo com o mundo.Quem vai limpar essa sujeira, essa bagunça e colocar tudo no lugar?
E isso que ouvimos falar desde criancinhas, é o que vem de 'fora', é o 'dharma social', para uma convivência harmoniosa.
E o que lhe é natural, aquilo que vem de 'dentro'? Quais são seus valores? Voce aprecia a verdade? Acha importante que não mintam para voce? Então, é natural que voce não minta para os outros, certo? (Será?) 
Isso é dharma para voce. As escrituras mais antigas também prezam o não mentir. 
Neste ponto todas as religiões, filosofias coincidem. Existem regras que são moralmente aceitas por todos e servem para a auto transcendência da natureza egóica. 
"Todas as grandes religiões transmitem a mensagem do amor, compaixão, perdão, contentamento e auto-disciplina", segundo Dalai Lama.
O que veio primeiro, a escritura ou o ser humano e as relações humanas? Seriam, então as normas éticas, simples invenções para adestrar as pessoas ou valores universais para sua felicidade e plenitude e uma convivência pacífica com todos os seres?
Algumas pessoas parecem achar que a moralidade é algo imposto por alguma doutrina, mas provavelmente, nunca analisou que todos tem valores que estimam. E como eles são aplicados? 
Podemos analisar um pouco das palavras de Swami Dayananda no livro "O Valor dos Valores" editora pela Vidya Mandir:
"A universalidade dos códigos de conduta não significa que estes padrões sejam absolutos. Dharma e Adharma são relativos. Existem situações onde o que é considerado ético torna-se não-ético, dependendo do contexto. Um padrão pode ser relativo, mas não significa que seja puramente subjetivo. Embora algumas vezes relativos na aplicabilidade, padrões éticos tem um conteudo universal. Existe uma semelhança na reação de todas as pessoas quando são feridas, traídas, enganadas e ameaçadas. Padrões éticos são baseados no senso comum, a respeito do que uma conduta é aceitável. Este consenso não é negado pelo fato de as normas estarem sujeitas a interpretação em algumas situações. Mesmo um valor claro como a não violência a  mim mesmo é modificado pela circunstância de minha própria submissão ao bisturi do cirurgião. Tal suspensão do meu valor pela não violência é situacional e não afeta meu valor básico pela não violência a mim mesmo ou a sua extensão- meu valor geral, pela não violência de todos os seres."

Seguir o dharma não é assim tão simples. Posso exigir dos outros muito mais do que exijo de mim mesmo. Exijo que os outros sejam éticos para que o beneficiado seja eu. 
Quando inciamos no caminho do Yoga e conhecemos um pouco da filosofia, é muito comum querermos uma mudança imediata e urgente. Assim que apresento ao alunos algumas normas yogis, todos se encantam, se assustam e ja começam a ver as atitudes Adharmicas (o oposto de dharma, que não é ético ou moralmente aceito) nos outros, não em si mesmos. As vezes queremos tanto mudar o mundo, porque ja estamos pensando o que vamos ganhar se o mundo funcionar como eu gostaria. 
Seguir o dharma é relaxar na sua própria Natureza. Lembro-me de mais um vídeo do youtube onde uma criança chora a morte de uma formiga. Aquilo é uma grande exemplo de não ferir que é natural de alguém. Não ferir para a criança é dharma.
 Enquanto escrevo, vejo meu gato tentando pegar minha pulseira. Ele segue com seu dharma felino,caçar, mastigar tudo que encontra, destruir sofás e cortinas e receber carinho. E dorme feliz, leve, sem culpa. 
Para nós a dica é não faça nada que provoque dor física, emocional a si mesmo e aos outros ( não ferir é uma das mais elevadas virtudes)  Evite tentar ser quem não é, parecer o que não é, manter as mentiras dá muito trabalho. Alivie a carga mental que voce carrega com suas histórias, suas vivências, o que voce sabe,o que aprendeu. Use do que aprendeu, só o que vale de verdade. 
Exercite sempre aquilo que não é tão facil para voce, se naturalmente voce já é generoso, mas irritado, exercite a paciência. Voce não nasce com todas as virtudes, uma ou outra precisa ser treinada e use sempre seu discernimento para saber aplica-las. 
Como acho que existem pessoas muito melhores que já escreveram e falaram sobre isso, fica aqui a dica do livro "As Virtudes do Yoga" , Georg Feuerstein e o "Valor dos Valores" de Swami Dayananda  e coloco tambem um texto do professor amado, Pedro Kupfer, que eu não pedi autorização (ops),  para mais uma reflexão do tema:

E lá vamos nós para a prática que vai muito, mas muito além do tapete...
_/\_

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A intencao no lugar certo

Ha poucos dias estive com uma aluna que me relatou sua frustracao em como o ensinamento do yoga e do vedanta pode ser mal interpretado . Ela nao conseguia compreender como algumas pessoas utilizam o 'Eu Sou Isso' ( o mahavakya Tat Tvam Asi) para reafirmar os velhos habitos, manter-se na acomodacao e ainda usar para beneficio proprio, o lema 'somos todos um'.
Concordo com ela que muito das tradicoes vao sendo corrompidas, mas tambem concordo com os que corrompem, ajuda-nos a enxergar melhor os vicios e defeitos em nos mesmo. 
Quer plenitude ou ser feliz? E simples! Tem regras- siga o dharma. 
Isso vai criando harmonia para voce e para todos ao seu redor. 
Rindo muito do relato, tive que lembra-la que o ensinamento e para evitar o sofrimento. 

Analise se a vida de quem vive de acordo com seus caprichos, os faz libertos ou cada vez mais enredados nas suas ilusoes. 
Analise se a natureza iluminada, que e inerente a cada um de nos, so nao surge a partir da pratica do dharma, do silencio, da pratica diaria. 
E exatamente por isso praticamos, nao praticamos para se tornar algo, praticamos porque ja somos e precisamos lembrar.
Somos todos iluminados, sim. Somos um tambem. Mas dito da boca para fora nao tem significado. Por exemplo, se nos partirmos do ponto de vista de uma relacao onde ha inveja ou ciume, existe alguem querendo ocupar o espaco que e de outra pessoa, ou seja, internamente ele/a preferiria que alguem nao existisse para que ele/a fosse feliz. 
Se somos todos um porque nao se satisfazer com a felicidade do outro? 
Somos uma unica natureza, mas nossa atencao continua sempre focada nas distintas personalidades e pequenices diarias.
E preciso olhar para o lugar certo, com a intencao certa, pelo tempo certo. Mas o certo aqui nao tem regra. 
Como disse a monja Coen, "as arvores florescem na primavera, mas elas nao sao a primavera em si. A primavera e mais abrangente que a arvore, toda a natureza e a natureza buda"e se nesta frase ela citou alguem como autor do texto, nao me lembro, so recordo da sua voz amorosa penetrando meus ouvidos.
Entao, amiga, o caminho e solitario, busque seguir o dharma, use a sabedoria dos caes que abaixam as orelhas quando se incomodam com o barulho, porque muitas das palavras que voce ira ouvir pelo caminho sao somente ruidos sem sentido.