Quem sou eu

Minha foto
Yogini por Amor + instrutora por dedicação + massoterapeuta por vocação + caminhando com samtosha e exercitando compaixão.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

o dharma e eu

Para iniciar este texto preciso mencionar um video que circula no you tube, chamado 'como crianças reagem ao prato cheio/vazio'. Vendo este vídeo, é possível, imediatamente, reconhecer o significado profundo do que é dharma. O que eu faço quando vejo que tenho um sanduiche e meu coleguinha ao lado não tem? O natural, dividi-lo, as vezes de forma desproporcional, não importa. A felicidade não é felicidade se não for compartilhada. 
Escrevo este texto como resposta a pergunta de uma aluna querida: "o que realmente é dharma?". 
Tema dificil, amiga, porque hoje em dia falar de virtudes, ou ser virtuoso não é lá uma coisa tão na moda, e isso acontece porque nós fomos perdendo de vista tudo aquilo que realmente importa, a relação com nós mesmos, a relação com os outros, a natureza, com a espiritualidade, etc...Fomos nos fechando de forma a parecer que estamos sós, isolados e perdidos. Mas sempre há tempo para correr atras e lembrar de quem somos. 
Respondo, trazendo aqui a tradução da palavra retirada da enciclopédia de Yoga da pensamento de Georg Feuerstein, atendo-se ao principal significado dentro do Yoga e do Hinduísmo: 
Dharma. (do radical dhri, 'segurar' ou 'reter')- No campo ético, dharma significa "retidão" ou "virtude", ou seja, a ordem moral, em oposição ao adharma. No Hinduísmo, a moralidade é o próprio fundamento do mundo.

Dharma é, então, aquilo que dá ordem e harmonia a tudo.Aquilo que sustenta o mundo. Todos ja devem ter ouvido falar do dharma da forma mais popular, "não faça aos outros aquilo que não gostaria que fosse feito a voce"? Então, é isso! 
Ensinamos e fomos ensinados desde cedo a perceber que nossas ações tem consequências. Lembro- me de um livro que dizia que as mais valiosas lições da vida foram aprendidas no jardim de infância. Concordei com muitas coisas. Exemplo, se voce usa um brinquedo, tome cuidado para não estragar, divida com os colegas e depois deve guardá-lo de volta. Regra simples, não é? Mas olha o que estamos fazendo com o mundo.Quem vai limpar essa sujeira, essa bagunça e colocar tudo no lugar?
E isso que ouvimos falar desde criancinhas, é o que vem de 'fora', é o 'dharma social', para uma convivência harmoniosa.
E o que lhe é natural, aquilo que vem de 'dentro'? Quais são seus valores? Voce aprecia a verdade? Acha importante que não mintam para voce? Então, é natural que voce não minta para os outros, certo? (Será?) 
Isso é dharma para voce. As escrituras mais antigas também prezam o não mentir. 
Neste ponto todas as religiões, filosofias coincidem. Existem regras que são moralmente aceitas por todos e servem para a auto transcendência da natureza egóica. 
"Todas as grandes religiões transmitem a mensagem do amor, compaixão, perdão, contentamento e auto-disciplina", segundo Dalai Lama.
O que veio primeiro, a escritura ou o ser humano e as relações humanas? Seriam, então as normas éticas, simples invenções para adestrar as pessoas ou valores universais para sua felicidade e plenitude e uma convivência pacífica com todos os seres?
Algumas pessoas parecem achar que a moralidade é algo imposto por alguma doutrina, mas provavelmente, nunca analisou que todos tem valores que estimam. E como eles são aplicados? 
Podemos analisar um pouco das palavras de Swami Dayananda no livro "O Valor dos Valores" editora pela Vidya Mandir:
"A universalidade dos códigos de conduta não significa que estes padrões sejam absolutos. Dharma e Adharma são relativos. Existem situações onde o que é considerado ético torna-se não-ético, dependendo do contexto. Um padrão pode ser relativo, mas não significa que seja puramente subjetivo. Embora algumas vezes relativos na aplicabilidade, padrões éticos tem um conteudo universal. Existe uma semelhança na reação de todas as pessoas quando são feridas, traídas, enganadas e ameaçadas. Padrões éticos são baseados no senso comum, a respeito do que uma conduta é aceitável. Este consenso não é negado pelo fato de as normas estarem sujeitas a interpretação em algumas situações. Mesmo um valor claro como a não violência a  mim mesmo é modificado pela circunstância de minha própria submissão ao bisturi do cirurgião. Tal suspensão do meu valor pela não violência é situacional e não afeta meu valor básico pela não violência a mim mesmo ou a sua extensão- meu valor geral, pela não violência de todos os seres."

Seguir o dharma não é assim tão simples. Posso exigir dos outros muito mais do que exijo de mim mesmo. Exijo que os outros sejam éticos para que o beneficiado seja eu. 
Quando inciamos no caminho do Yoga e conhecemos um pouco da filosofia, é muito comum querermos uma mudança imediata e urgente. Assim que apresento ao alunos algumas normas yogis, todos se encantam, se assustam e ja começam a ver as atitudes Adharmicas (o oposto de dharma, que não é ético ou moralmente aceito) nos outros, não em si mesmos. As vezes queremos tanto mudar o mundo, porque ja estamos pensando o que vamos ganhar se o mundo funcionar como eu gostaria. 
Seguir o dharma é relaxar na sua própria Natureza. Lembro-me de mais um vídeo do youtube onde uma criança chora a morte de uma formiga. Aquilo é uma grande exemplo de não ferir que é natural de alguém. Não ferir para a criança é dharma.
 Enquanto escrevo, vejo meu gato tentando pegar minha pulseira. Ele segue com seu dharma felino,caçar, mastigar tudo que encontra, destruir sofás e cortinas e receber carinho. E dorme feliz, leve, sem culpa. 
Para nós a dica é não faça nada que provoque dor física, emocional a si mesmo e aos outros ( não ferir é uma das mais elevadas virtudes)  Evite tentar ser quem não é, parecer o que não é, manter as mentiras dá muito trabalho. Alivie a carga mental que voce carrega com suas histórias, suas vivências, o que voce sabe,o que aprendeu. Use do que aprendeu, só o que vale de verdade. 
Exercite sempre aquilo que não é tão facil para voce, se naturalmente voce já é generoso, mas irritado, exercite a paciência. Voce não nasce com todas as virtudes, uma ou outra precisa ser treinada e use sempre seu discernimento para saber aplica-las. 
Como acho que existem pessoas muito melhores que já escreveram e falaram sobre isso, fica aqui a dica do livro "As Virtudes do Yoga" , Georg Feuerstein e o "Valor dos Valores" de Swami Dayananda  e coloco tambem um texto do professor amado, Pedro Kupfer, que eu não pedi autorização (ops),  para mais uma reflexão do tema:

E lá vamos nós para a prática que vai muito, mas muito além do tapete...
_/\_

Nenhum comentário:

Postar um comentário