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Yogini por Amor + instrutora por dedicação + massoterapeuta por vocação + caminhando com samtosha e exercitando compaixão.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

As várias faces da Devi- o autossacrificio

Ainda na onda do exercício das virtudes universais, decidi trazer ao conhecimento de alguns, que talvez nunca tenham ouvido falar, a imagem e história de uma das deusas mais impressionantes do universo hinduista. Como o assunto em pauta ultimamente nas nossas aulas tem sido dharma, a disciplina e autotranscendencia, ninguem melhor que CHINNAMASTA para nos dar o verdadeiro significado do autossacrificio que fazemos no Yoga.
CHINNAMASTA  significa aquela que é decapitada, pois ela aparece em pé, segurando a própria cabeça cortada em sua mão esquerda, na outra mão, uma espada e um jato de sangue jorrando em tres direções diferentes. Há ao seu lado dois devotos que bebem do sangue que sai do lado direito e esquerdo e o central jorra diretamente na boca de sua cabeça cortada. Bonito,não? Nem sempre é visto assim, principalmente sem compreender o significado disto.
Porque ela está decapitada? A deusa, Mãe do Universo, cometeu o autossacrificio em favor da fome de seus discipulos, ou seja, arrancou sua cabeça para alimentar os devotos famintos. Ofereceu a si mesma para beneficiar os outros. Agora, porque o jato médio corre para sua própria boca? Na verdade, Chinnamasta não se matou como nos podemos conceber o suicidio, ela mostra que o autossacrificio não nega a vida e sim intensifica. Ela é alimentada pelo fluxo de energia psicoespiritual que sobe ao longo do canal sutil sushmna, conhecida como  energia Kundalini. Esse simbolismo é o que buscamos na pratica de Hatha Yoga, movimentar esta energia para que sejamos alimentados e revitalizados em cada celula e possamos transcender o corpo e transmuta-lo num veículo do divino.
Usar nossas mais diversas potencialidades para contribuirmos com a harmonia do Universo. Perceba que mesmo sem a cabeça, ela mantem-se de pé, mostrando a nós a sua infinita vitalidade e energia sem fim que podemos adquirir 'imitando' o seu ato de autossacrificio e assim acessando a energia do proprio Ser.
Há outra imagens de Chinnamasta onde ela aparece sobre um casal copulando, sendo o homem KAMADEVA (deus do amor e da paixão) e a mulher RATI (deusa do prazer). Esta imagem pode ter varias interpretações. Pode mostrar a natureza da impermanencia das coisas existentes, pode ainda, para os adeptos de Yoga e Tantra, significar o autossacrificio que transcende a sexualidade e o prazer, e mais um terceiro fator, que se deve a fato de sua cabeça cortada nos mostrar a transcendencia do ego e a identificação com o corpo físico.
So explicando melhor o segundo item, não há aqui nenhuma ideia do autossacrificio simbolizar celibato ou repressão e sim,  a utilização da energia sexual para aumentar a vitalidade do corpo.
Sem sombra de duvidas, a imagem de Chinnamasta e seus simbolos é um grande indicador de nossa natureza Ilimitada e capacidade de doação. Somos o sacrificio (praticante), o sacrificador (sabedoria) e o sacrificado(ego). E é aqui, neste exato instante que voce pode optar ser o puja (oferenda) divino.
Seguimos no exercicio de servir, amar e compartilhar...em amor, _/\_

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

o dharma e o sapato vermelho

Assunto que dá o que falar e refletir, é compras e o exercício do dharma. Eu, como consumista compulsiva assumida e nada orgulhosa da declaração, tive meu momento 'reflexões num shopping center' ao conversar com um vendedor de uma loja de sapatos em promoção (para quem quer um modelinho novo, a santa lolla esta com 50% off). Bom, continuando na linha de pensamento, o adorável vendedor me diz:
 "Não é lindoo este sapato? Couro por esse preço"....
E na minha cabeça a palavra se repetia como mantra: "couro, cooouro".......
"Bom?", eu disse, "não é assim tão bom"...
 Ele já imaginado perder a venda, diz: -"mas um sapato com essa qualidade voce não encontra por esse preço.." meus olhos desceram para meus pés e ele continuou:
-A parte interna é de couro suíno, mais macio, viu que conforto?
Sim, eu vi. Estava pisando nas nuvens...opa, nas nuvens não!!! Na pele de alguém!!!
Chega, já é demais -pensei- não basta a vaca, agora o porco também? Conforto meu, morte do outro.
Se voce não é do tipo que acha que os animais merecem alguma dignidade, pare por aqui.
Entramos num terreno dificil, tipo guerra do petróleo, onde uns defendem muito, outros mais ou menos e outros não querem nem saber.
Disse que não levaria o sapato,obrigada. Ele perguntou: 'não gostou?"
Outra duvida do dharma falar ou não a verdade?
Aqui vão as opções da máxima verdade ate a mentira branca (aquela que não fere ninguém):
-Gostei, mas é couro, sou vegetariana, e voce entende que___________
-Gostei, vou dar mais uma voltinha e penso se vou querer.....
- Não é bem o que eu queria, então, sinto muito..
- Não, não gostei!
Dentre todas, a resposta escolhida do dia foi, a primeira..Eis, que ele era esperto e retruca:
-Mas voce não acha legal que tudo do animal é usado? A carne,o couro, os ossos,etc...
Pronto, surgiu o momento reflexões da compra consciente.
-Eu acho, ja que ele foi abatido,assassinado, triturado, teve uma vida terrível, que sim, muito bom que tudo seja aproveitado para nosso prazer...
E agora? Então, se concordo, devo ou não levar o sapato?
Adorei minha conversa com o garoto, pois ele não tinha só interesse em vender algo, tinha vontade de conhecer a minha linha de pensamento, ou que filosofia estava por trás disso. Sentou-se ao meu lado, apoiou o cotovelo na perna e esperou: e ai? Muito papo depois, ambos estavamos rindo dos nosso ideiais.
Declaro que sou contra a violencia, mas me assusto com a quantidade de coisa que consumo que ferem esta regra tão nobre. Nas minhas buscas por uma vida menos violenta descobri que até minha pasta de dente estava condenada. A busca por uma perfeição deste nível é impossível. Reflita sobre as suas ações e veja quantas atitudes podem provocar dor e sofrimento as variadas espécies. Podemos, analisar nossos atos e minimizar a "meleca" que anda rolando por ai, mas dai a achar que vamos mesmo mudar todo o mundo, ai,ai,ai....Vai rolar muita frustração se voce sonha com isso.
Só peço que possamos sempre dirigir nossas forças e habilidades para o bem de todos os seres.
Se bateu a curiosidade, aqui vai um link, para que voce saiba sobre alguns produtos que usam partes de animais na sua composição e que voce nem sonha:
http://super.abril.com.br/blogs/planeta/9-produtos-que-contem-ingredientes-animais-em-sua-formula-e-voce-nem-sabia/
Ah, e sobre o sapato, decidi não levar. Tenho gatos, que vivem de ração que é composto de animais. Muitas gente ja come tudo que se move, então alguns, talvez, devam se abster para gerar equilibrio. Será? Fica a reflexão.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

o dharma e eu

Para iniciar este texto preciso mencionar um video que circula no you tube, chamado 'como crianças reagem ao prato cheio/vazio'. Vendo este vídeo, é possível, imediatamente, reconhecer o significado profundo do que é dharma. O que eu faço quando vejo que tenho um sanduiche e meu coleguinha ao lado não tem? O natural, dividi-lo, as vezes de forma desproporcional, não importa. A felicidade não é felicidade se não for compartilhada. 
Escrevo este texto como resposta a pergunta de uma aluna querida: "o que realmente é dharma?". 
Tema dificil, amiga, porque hoje em dia falar de virtudes, ou ser virtuoso não é lá uma coisa tão na moda, e isso acontece porque nós fomos perdendo de vista tudo aquilo que realmente importa, a relação com nós mesmos, a relação com os outros, a natureza, com a espiritualidade, etc...Fomos nos fechando de forma a parecer que estamos sós, isolados e perdidos. Mas sempre há tempo para correr atras e lembrar de quem somos. 
Respondo, trazendo aqui a tradução da palavra retirada da enciclopédia de Yoga da pensamento de Georg Feuerstein, atendo-se ao principal significado dentro do Yoga e do Hinduísmo: 
Dharma. (do radical dhri, 'segurar' ou 'reter')- No campo ético, dharma significa "retidão" ou "virtude", ou seja, a ordem moral, em oposição ao adharma. No Hinduísmo, a moralidade é o próprio fundamento do mundo.

Dharma é, então, aquilo que dá ordem e harmonia a tudo.Aquilo que sustenta o mundo. Todos ja devem ter ouvido falar do dharma da forma mais popular, "não faça aos outros aquilo que não gostaria que fosse feito a voce"? Então, é isso! 
Ensinamos e fomos ensinados desde cedo a perceber que nossas ações tem consequências. Lembro- me de um livro que dizia que as mais valiosas lições da vida foram aprendidas no jardim de infância. Concordei com muitas coisas. Exemplo, se voce usa um brinquedo, tome cuidado para não estragar, divida com os colegas e depois deve guardá-lo de volta. Regra simples, não é? Mas olha o que estamos fazendo com o mundo.Quem vai limpar essa sujeira, essa bagunça e colocar tudo no lugar?
E isso que ouvimos falar desde criancinhas, é o que vem de 'fora', é o 'dharma social', para uma convivência harmoniosa.
E o que lhe é natural, aquilo que vem de 'dentro'? Quais são seus valores? Voce aprecia a verdade? Acha importante que não mintam para voce? Então, é natural que voce não minta para os outros, certo? (Será?) 
Isso é dharma para voce. As escrituras mais antigas também prezam o não mentir. 
Neste ponto todas as religiões, filosofias coincidem. Existem regras que são moralmente aceitas por todos e servem para a auto transcendência da natureza egóica. 
"Todas as grandes religiões transmitem a mensagem do amor, compaixão, perdão, contentamento e auto-disciplina", segundo Dalai Lama.
O que veio primeiro, a escritura ou o ser humano e as relações humanas? Seriam, então as normas éticas, simples invenções para adestrar as pessoas ou valores universais para sua felicidade e plenitude e uma convivência pacífica com todos os seres?
Algumas pessoas parecem achar que a moralidade é algo imposto por alguma doutrina, mas provavelmente, nunca analisou que todos tem valores que estimam. E como eles são aplicados? 
Podemos analisar um pouco das palavras de Swami Dayananda no livro "O Valor dos Valores" editora pela Vidya Mandir:
"A universalidade dos códigos de conduta não significa que estes padrões sejam absolutos. Dharma e Adharma são relativos. Existem situações onde o que é considerado ético torna-se não-ético, dependendo do contexto. Um padrão pode ser relativo, mas não significa que seja puramente subjetivo. Embora algumas vezes relativos na aplicabilidade, padrões éticos tem um conteudo universal. Existe uma semelhança na reação de todas as pessoas quando são feridas, traídas, enganadas e ameaçadas. Padrões éticos são baseados no senso comum, a respeito do que uma conduta é aceitável. Este consenso não é negado pelo fato de as normas estarem sujeitas a interpretação em algumas situações. Mesmo um valor claro como a não violência a  mim mesmo é modificado pela circunstância de minha própria submissão ao bisturi do cirurgião. Tal suspensão do meu valor pela não violência é situacional e não afeta meu valor básico pela não violência a mim mesmo ou a sua extensão- meu valor geral, pela não violência de todos os seres."

Seguir o dharma não é assim tão simples. Posso exigir dos outros muito mais do que exijo de mim mesmo. Exijo que os outros sejam éticos para que o beneficiado seja eu. 
Quando inciamos no caminho do Yoga e conhecemos um pouco da filosofia, é muito comum querermos uma mudança imediata e urgente. Assim que apresento ao alunos algumas normas yogis, todos se encantam, se assustam e ja começam a ver as atitudes Adharmicas (o oposto de dharma, que não é ético ou moralmente aceito) nos outros, não em si mesmos. As vezes queremos tanto mudar o mundo, porque ja estamos pensando o que vamos ganhar se o mundo funcionar como eu gostaria. 
Seguir o dharma é relaxar na sua própria Natureza. Lembro-me de mais um vídeo do youtube onde uma criança chora a morte de uma formiga. Aquilo é uma grande exemplo de não ferir que é natural de alguém. Não ferir para a criança é dharma.
 Enquanto escrevo, vejo meu gato tentando pegar minha pulseira. Ele segue com seu dharma felino,caçar, mastigar tudo que encontra, destruir sofás e cortinas e receber carinho. E dorme feliz, leve, sem culpa. 
Para nós a dica é não faça nada que provoque dor física, emocional a si mesmo e aos outros ( não ferir é uma das mais elevadas virtudes)  Evite tentar ser quem não é, parecer o que não é, manter as mentiras dá muito trabalho. Alivie a carga mental que voce carrega com suas histórias, suas vivências, o que voce sabe,o que aprendeu. Use do que aprendeu, só o que vale de verdade. 
Exercite sempre aquilo que não é tão facil para voce, se naturalmente voce já é generoso, mas irritado, exercite a paciência. Voce não nasce com todas as virtudes, uma ou outra precisa ser treinada e use sempre seu discernimento para saber aplica-las. 
Como acho que existem pessoas muito melhores que já escreveram e falaram sobre isso, fica aqui a dica do livro "As Virtudes do Yoga" , Georg Feuerstein e o "Valor dos Valores" de Swami Dayananda  e coloco tambem um texto do professor amado, Pedro Kupfer, que eu não pedi autorização (ops),  para mais uma reflexão do tema:

E lá vamos nós para a prática que vai muito, mas muito além do tapete...
_/\_

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A intencao no lugar certo

Ha poucos dias estive com uma aluna que me relatou sua frustracao em como o ensinamento do yoga e do vedanta pode ser mal interpretado . Ela nao conseguia compreender como algumas pessoas utilizam o 'Eu Sou Isso' ( o mahavakya Tat Tvam Asi) para reafirmar os velhos habitos, manter-se na acomodacao e ainda usar para beneficio proprio, o lema 'somos todos um'.
Concordo com ela que muito das tradicoes vao sendo corrompidas, mas tambem concordo com os que corrompem, ajuda-nos a enxergar melhor os vicios e defeitos em nos mesmo. 
Quer plenitude ou ser feliz? E simples! Tem regras- siga o dharma. 
Isso vai criando harmonia para voce e para todos ao seu redor. 
Rindo muito do relato, tive que lembra-la que o ensinamento e para evitar o sofrimento. 

Analise se a vida de quem vive de acordo com seus caprichos, os faz libertos ou cada vez mais enredados nas suas ilusoes. 
Analise se a natureza iluminada, que e inerente a cada um de nos, so nao surge a partir da pratica do dharma, do silencio, da pratica diaria. 
E exatamente por isso praticamos, nao praticamos para se tornar algo, praticamos porque ja somos e precisamos lembrar.
Somos todos iluminados, sim. Somos um tambem. Mas dito da boca para fora nao tem significado. Por exemplo, se nos partirmos do ponto de vista de uma relacao onde ha inveja ou ciume, existe alguem querendo ocupar o espaco que e de outra pessoa, ou seja, internamente ele/a preferiria que alguem nao existisse para que ele/a fosse feliz. 
Se somos todos um porque nao se satisfazer com a felicidade do outro? 
Somos uma unica natureza, mas nossa atencao continua sempre focada nas distintas personalidades e pequenices diarias.
E preciso olhar para o lugar certo, com a intencao certa, pelo tempo certo. Mas o certo aqui nao tem regra. 
Como disse a monja Coen, "as arvores florescem na primavera, mas elas nao sao a primavera em si. A primavera e mais abrangente que a arvore, toda a natureza e a natureza buda"e se nesta frase ela citou alguem como autor do texto, nao me lembro, so recordo da sua voz amorosa penetrando meus ouvidos.
Entao, amiga, o caminho e solitario, busque seguir o dharma, use a sabedoria dos caes que abaixam as orelhas quando se incomodam com o barulho, porque muitas das palavras que voce ira ouvir pelo caminho sao somente ruidos sem sentido.