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Yogini por Amor + instrutora por dedicação + massoterapeuta por vocação + caminhando com samtosha e exercitando compaixão.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Vida de ashram

BUM BUM toca o sino as 4:30 da manhã e ouço alguém dizer OM NAMAH SHIVAYA.
Abro os olho e vejo que não sou a única a começar a se movimentar rapidamente na cama para se preparar.
-1 minuto para espreguiçar;
-1 minuto para juntar sua roupa, toalha e chegar ao banheiro;
-10 minutos para jala neti, para raspar lingua, tomar banho, escovar dentes, vestir-se, arrumar a cama, pegar o mat e sair em direção a sala.

Chegar à sala, procurar um lugar, estender o mat, enrolar-se no chale, movimentar a cabeça e sentir os barulhinhos do pescoço e o Swami diz OOOOMMMMM...

E, agora, posso respirar mais suavemente. Cheguei a tempo para relaxar.
Iniciamos o dia com um bhajan longo, que vai entrando devagar, acalmando todos os sentidos e fazendo surgir um calor enorme no peito.
Então, seguimos com os pranayamas por uma hora. Uma hora que, às vezes é maravilhosa, outras, é muito cansativa, alguns momentos voce acha que está experenciando um êxtase e quando percebe está mesmo é dormindo.
Depois de carregar-se com prana, meditação por mais uma hora. Dizem por aí que meditação é muito bom. Concordo, em termos.
Porque as vezes não tem nada de bom em ficar uma hora sentado, olhando para você mesmo sem ter para onde fugir. E é daí que começam a surgir todas as coisas feias e medonhas da sua personalidade. E sabe o que você faz? Se estivesse em casa, abria o olho e saia correndo, mas como o local exige respeito e muita, muita disciplina, então, você fica ali olhando para tudo o que vem surgindo entre um mantra e outro, pedindo para que os ponteiros do relógio corram mais rápido. Mas eles não correm.
E uma hora é uma eternidade. Todas aquelas as máscaras que costuma usar, vão ao chão. Todos os artifícios das suas relações interpessoais, da suas crenças vão se desmanchando. Bom? Ótimo! Mas não é sempre assim que você verá!
Terminada a sessão tortura de meditação o sol começa a brilhar, o mundo começa a despertar e então, lá vem a prática de Hatha Yoga.
Torce, puxa, faz força aqui, segura ali, inverte, reverte, transforma, desforma e relax... quando ouço relax aaahhhhh, êxtase!
E assim começa meu primeiro dia, dos 30, ao qual me propus a vivenciar o Yoga, um minuto de dor, um de prazer, um de bom, outro de ruim e enfim, depois de tres horas e meia de muita pratica, o tao esperado desjejum.
A fila de 100 pessoas dobra a esquina do refeitório. O estômago roncando alto, e ainda, tenho que exercitar a paciência. Não fosse isso, antes de comer, rezar. A mão desesperada vai pegar o pão e opa! OM Brahmam é o alimento, é o fogo, é o que te sustenta, Brahmam.....
A hora da refeição passa voando, bem diferente da hora da meditação, porque será?
Terminando de comer, momento de descanso.. Não! Momento Seva!
Um dia lave louça, no outro varra o chão, no outro, limpe banheiros, no outro, janelas, limpe o altar e assim dia-a-dia uma função.
O Swami sorridente de laranja aponta:"enquanto trabalha, utilize-se de mantra para não deixar sua mente vagar". Porque ele sorri tanto? Isso me irritava. Nada o incomodava? Acordar as 4 da matina todo dia, aguentar um bando de gente andando atrás dele o tempo todo nesta calma. Será que é porque, enquanto estamos aqui trabalhando ele dá um cochilo?
E os olhos daquele ser...um brilho imenso e tão, tão expressivos que dava até um certo incômodo ao bater os olhos de frente aos dele, parecia que um raio X passava por você e e ele sabia imediatamente tudo, tudinho, qualquer coisinha que passava na sua cabeca, que medo.
Então, para defender meus pensamentos privados do seu super-olhar , o jeito era seguir as instruções dele: mantra o tempo todo. Dai, comecei a reparar que minha cabeça andava em lugares nada politicamente corretos, éticos ou belos. Imagina se o Swami ouve isso? Meus pensamentos, vagavam entre eu, eu mesma e nada mais que eu.
E nesse monte de tralha egóica, tem a violência, muita violência que eu achava não cometer porque não comia carne. Quem dera fosse tão fácil assim, largue e a carne, os ovos, e pronto! Não precisa mais de esforço para ser uma yogi-pacifista. Droga de pensamento idiota! Droga de trabalho sem fim. Droga de retiro que me deixa enfurecida!Porcaria de lugar que nao da tempo nem de olhar no espelho! Se meu cabelo estava bom? Nao sei. Se havia uma couve colada no meu dente? Nao sei tambem. E reparei que ha uns dias nao sabia mais como era meu reflexo. A situacao das unhas, nem te falo. Hidratante, filtro solar, batom, os 345 tipos diferentes de creminhos para cada pedacinho do corpo, aaahhhh estao num mundo distante agora. O conforto da sua cama, com travesseiro fofinho, roupas lavadas na maquina, aaahhh que sonho...

Sem contar que aquilo e que era um big brother! A galera toda sendo eliminada dia-a-dia, e aqui nao posso nem citar os motivos que eles davam, ou os que contavam tentando se convencer de que nao era boa ideia ficar por la.

E o tempo vai passando e voce esta con-vivendo com pessoas. Pessoas e suas manias. Manias delas, porque e claro, voce nao tem nenhuma mania irritante, tudo em voce e absolutamente normal.
E conflitos. Num ashram? Sim! As pessoas brigam, se estressam, descabelam por muito pouco. Toda aquela cera passada na cara para dar um 'tapa' na aparencia vai desmanchando no calor da disciplina. Pelo menos foi assim que eu saquei as coisas rolando.
Todos os tipos de crises. Ate as improvaveis de namoricos as escondidas, com traicoes, com paranoias, ciumes, quebra-paus etc...Novela mexicana. Tudo em menos de um mes de convivencia! Da-lhe o lado negro da forca!!! Forca, Luke! "Muito a aprender voce ainda tem", diria mestre Yoda.
A dor do corpo, a dor da alma, a dor do ego que nao gostava de limpar banheiros
'Por favor, senhor Swami, gostaria de uma funcao mais nobre, porque arrumar o altar e muito mais legal', ou ' Como assim? Paguei para vir aqui estudar e estou cortando cenouras?'.
Porque e claro que quando chegamos, eramos todos Yogis do mais alto grau evolucionario espiritual com graducao e nivel 5 estrelas. Mas passando o tempo juntos, vivendo como uma familia, tudo vem a superficie e viva! Problemas a vista! Sem uma frase de efeito do mestre Yoda nao da para continuar, porque ele e muito bom "O medo é o caminho para o lado negro. O medo leva a raiva, a raiva leva ao ódio, o ódio leva ao sofrimento." Parece que esse cara andou lendo as Upanisads.

Houveram momentos em que ganhavamos um tempo para nos. Recebiamos a noticia felizes e quando achavamos que ia rolar um descansinho, era pedido para que todos fizessem mauna e usassem este tempo para estudar. Duas horas de descanso, estudando em silencio e no refeitorio para que os professores pudessem auxiliar nas duvidas. Nao e uma maravilha?
Ate agora, so contei uma pequena parte do que vivenciei, mas existem outras nuances disso tudo.
Por um lado, era uma disciplina rigida, duas trocas de roupas somente, uma corre-corre ladeira acima, ladeira abaixo,muito estudo, muita pratica, dores pelo corpo, muitas duvidas, e por ai afora.
Por outro era muito amor no coracao daqueles que estavam ali para ensinar, muito sorriso acolhedor, muita paciencia com o minimo problema que voce pudesse estar vivenciando, muita comida boa e desintoxicante, alguns quilos perdidos, algumas ideias jogadas no lixo e muita, muita verdade sobre voce sendo revelada.
Com o passar dos dias, notei que acordava antes do sino, meu tempo de banho, troca de roupa e chegada a sala de aula era o mesmo, mas a forma com que eu fazia tudo isso era outra. Nao contava o tempo. Nao olhava para o relogio. Tudo se encaminhava de forma mais suave, sem aquela urgencia que eu sentia nos primeiros dias para nao me atrasar. Eu simplesmente, ja havia me acostumado com aquelas pessoas que tossiam pela manha, as que reclamavam do banho frio  (posso dizer que levei muito tempo para me adaptar a isso tambem), a subida da ladeira, a meditacao penosa matinal, aos incomodos dos insetos.
No inicio da jornada, eu imaginava que podia ter feito algo melhor com minhas ferias, e sonhava com o que os outros estariam fazendo. Dai, percebi que nao havia mais vida la fora, a vida estava ocorrendo aqui, daquela maneira, do jetinho que estava e era suficiente, nem bom, nem ruim.
Nessas pequenas revelacoes, fui aceitando cada dificuldade com compaixao, cada licao com reverencia, cada dia com sua beleza, cada ser que ali estava com sua personalidade, cada meditacao com seu obstaculo, cada trabalho com dignidade e integridade, cada momento como uma declaracao de amor profundo e gratidao.
Dos ensinamentos colhidos deste encontro, trago comigo algo que jamais pode ser explicado. Sao com esses aprendizados que procuro dar passos seguros na minha caminhada. E e com o coracao transbordante de alegria que saudo aos meus mestres diariamente.
JAYA!

( nao reparem na falta de acentuacao, pois este texto comecou ser escrito no meu pc que pifou e terminei num mac que nao sei onde fica nada!)








3 comentários:

  1. Oi Juju! Adorei seu texto! Estou na expectativa pra viver tudo isso! Adorei o blog, mas gostava mais do outro layout, esse ficou igual o meu rsrsrs!! Beijos Paty Bauru
    www.liberdadeeyoga.blogspot.com

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    1. oi Pati!!! voce vai amar!!!ja esta programado???me conta!!me conta!!! eu nao sei nem mudar isso aqui, quem esta fazendo essa mudanca pra mim e uma amiga!! ela deu uma modificada..pega mal igual,ne??kkkkkkkk bjooooo

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  2. ow,muito bacana esse blog,parabens em,passaram 2 pessoas la no meu e falaram do seu,aprovadissimo 100% ai da gosto de ver blogs recomendados,me recomendaram esse www.rastreamentodecelular.net,parece que é de software de celular pra rastrear e eu tava precisando,sera que é bom?Abraços,fui,BLOG PERFEITO

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